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Cartas-->Sem conversa -- 03/07/2000 - 10:20 (Maria Abília de Andrade Pacheco) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(Colaboração de M.R.A., de Brasília)

De Brasília
Para São Paulo
Depois de todos os cometas que passaram pelo bosque negro desta vida, todos ribombando seus trovões, tanto compasso, e a busca do acerto do passo da dança, tanto giro, coração aos cacos, libertando a pior alma que se pode ter, e de repente, atrás do rastro, o eco do que foi ou, pior ainda, do que poderia ter sido e veio natimorto. Emoção sem pedir contato, sem toque, é um desperdício e faz lembrar que toda a felicidade nada mais é do que um luxo. Verdes lampejos de asteróides noturnos pontuando folhas brancas de um papel gasto e cheirando a velho. Remover ferrugens é evitar a ruína. Gaiolas douradas voando loucas, oferecidas, mãos desenhando roteiros de viagem, procurando atalhos. O problema todo é o ponto de partida. Não se começa nada fora deste mundo. Tudo tem sua origem aqui. Corpos siderais neste universo não ditam nenhuma norma, só os físicos e químicos sabem disso, os biólogos não sei. Uma andorinha sozinha no fio da gambiarra altas madrugadas, só poderia dar no que deu. Morreu pelo bico virgem de beijos. Se o sol dava lá suas risadas da lua, matando-a a cada amanhecer, os olhos, esses os meus, encandeados, enxergavam tudo multiplicado, procurando um rosto por entre as pernas da multidão compacta que caminhava, sem fim, sempre, sem mácula. Qualquer maior questão seria resolvida nesse emaranhado que escorrega em seus horários atrás de rumos. Noites maldormidas encontraram, desde essa descoberta, uma solução fácil. Misturar-se à multidão, seguir seus passos, mesmo que no final eles dobrassem algum monumento e conduzissem a lugar nenhum. Apreciar a troca de guarda do Palácio do Planalto, quando o soldadinho, numa mágica sua, começa a se movimentar, com toda a precisão, e outro vem e ocupa seu lugar, um vai, outro vem, não consigo compreender como, quem os segue, o que os move. Sei que se movimentam, sim, quando menos se espera, e melhor nem querer saber por que o fazem, quando e como, senão perde a graça. Os bancos solitários entre os ministérios observam os canteiros de flores de plástico, mortas na próxima estação em benefício de outras irmãs que precisam viver. As árvores secas em lugar de folhas dão é bons cachos de flores coloridíssimas, numa afronta a qualquer seca. Sei que daqui a pouco despenca alguma chuva só de raiva. Enquanto isso, os espelhos d’água do Congresso Nacional navegam pelo céu azul e límpido de uma cidade horizontal e branca. Quem aponta no infinito é uma sombra, e tudo não passou de besteira. Repito: não se conhece alma de ninguém neste mundo. Tem razão quem diz que é num outro plano piloto que a alma se liberta. Neste, somos eternos, sim, mas num certo prazo, prisioneiros que somos de carcaças, a primeira sendo a do corpo, que se movimenta e não hiberna senão morre. Veja que tudo move. Essas águas, esse céu sem nuvens, guardando seus choros até outubro, este chão que se alastra até não mais poder. Pombos em vôo baixo namoram o pipoqueiro e se enamoram sob os raios dourados de um sol único que ninguém sabe de onde vem, brota de todo o céu, um milagre. Se pelo menos uma folha seca me viesse e contasse suas histórias. Mas não. O que brinca comigo é meu lampejo humano de tentar entender o que se passa. Ser um quadro negro não inaugurado, envolto em plástico, sob a proteção de algum professor muito vocacionado que preza o terreno inculto. Não se deixar emocionar por nenhum alfabeto que tente decodificar o que vai dentro de mim, simpatizar apenas com a melodia do vento sibilante e devastador que levanta a saia das copas floridas e despeja um bailado de pétalas desidratadas por tudo o que é mundo. Enquanto amanheço, aguardo o anoitecer, paciente e sabiamente. O que é de hoje eu deleto na primeira hora. Todas as mensagens vão bem em garrafas despejadas no Lago Paranoá. Silêncios não são acontecimentos. Muito grande a confusão mental de quem vive entre muros. A cidade se espraia justamente para prender quem dela se aventurar a sair. Tanto fez e tanto faz. Então, fica assim: não sair armado, pelo menos. Deixar o acontecer chegar, sem previsões. Que não adianta nada ficarmos assim, um lá, outro cá, despejando suas vidas à boca de computadores interligados apenas por fios invisíveis que não sei nem quero saber de onde vêm nem para onde vão. Primeiro quero dar-lhe meu sorriso ao vivo e branquíssimo. O seu não pensei ainda, só penso é no meu, sorrindo-lhe bons dentes esculpidos por destras mãos odontológicas. Depois então, podemos conversar. Se der, como diz o outdoor do motel.
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